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A mostrar mensagens de julho, 2023

"O SUBTERRÂNEO DO MORRO DO CASTELO" POR LIMA BARRETO

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Do grande Afonso Henriques de LIMA BARRETO a coletânea de crônicas intituladas "O SUBTERRÂNEO DO MORRO DO CASTELO" publicadas no Jornal Correio da Manhã no período de maio a junho de 1904, inaugura sua produção literária. Na gestão do Prefeito Francisco Pereira Passos foi construída a Av. Central (hoje Rio Branco), dando início à modernização do Centro da cidade do Rio de Janeiro que por questões sanitárias também era do interesse do Presidente Rodrigues Alves. Tem início então para a construção da Avenida parte da demolição do Morro do Castelo, que só foi demolido de vez em 1922 na gestão do Prefeito Carlos Sampaio. Com a demolição em 1904 são encontradas algumas galerias subterrâneas fazendo reacender o interesse de arqueólogos, caça-tesouros e engenheiros, haja vista que desde o tempo do Marques de Pombal, quando os Jesuítas foram expulsos, os cariocas acreditavam que os religiosos haviam deixado para trás joias, pedras preciosas, relíquias e documentos históricos do R

VIVALDO COARACY E O RIO DO SÉCULO XVII

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PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS-NOVOS Em 1606, segundo o grande historiador Vivaldo Coaracy, na obra "O Rio de Janeiro do Século XVII" temos (a primeira, creio eu) perseguição política (no sentido de confronto entre os representantes dos "Poderes" de então) contra um judeu (cristão-novo). O Ouvidor do Rio, Gonçalo Homem, foi denunciado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro ao Governo Geral com sede na Bahia, pelo fato de ser "judeu". Foi reintegrado com muito esforço. A verdade é que o Ouvidor (um Magistrado do tempo colonial e que também fiscalizava atos administrativos) estava desempenhando apenas sua função legal. A Câmara de Vereadores no período colonial e do Império em todo país tinha a função também administrativa da cidade, porque a figura do "Prefeito" surge em fins do século XIX nos municípios brasileiros. Laura Berquó

A ABIKUNIDADE E O FIM DA DINASTIA DE AVIS

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Dom Sebastião, o Desejado (Gravura Internet) A ABIKUNIDADE E O FIM DA DINASTIA DE AVIS Para nós, integrantes do Candomblé, existe um fenômeno chamado Abikunidade ou abikuidade. Existem sociedades no plano espiritual chamadas Egbé Orum. No plano material vivemos em Egbé Aiyé. Egbé significa comunidade. Os abikus também têm sua própria comunidade em Egbé Orum. Ressalte-se que no Orum também não existe um único Egbé como dito, tendo Egbé-abikú e outros. Uma pessoa abikú tem seu destino marcado por mortes no parto (da criança ou da mãe), abortos, mortes ainda em tenra idade, e não raro mortes trágicas na vida adulta às vésperas de grandes eventos ou sem maiores explicações até verificarmos esses históricos familiares. O que para alguns já seria uma característica para abikús que sobrevivem à idade infantil, provocando sofrimento aos que ficam. No caso da Dinastia de Avis é facilmente verificável a existência da abikunidade ou abikuidade. Na verdade o fim da Dinastia de Avis chega com o

POR QUE MATARAM TIRADENTES?

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POR QUE MATARAM TIRADENTES? O mártir da Inconfidência, nascido em 12.11.1746, em Ritápolis-MG e morto em 21.04.1792 no Rio de Janeiro - RJ é uma figura histórica que precisa ser melhor elucidada. Joaquim José da Silva Xavier era mineiro, filho de português e mãe brasileira. A mãe descendia dos primeiros colonizadores do grupo genealógico de São Vicente. Naquele tempo não se considerava português pelo critério "ius sanguínis" o que muito contribuia para o sentimento de brasilidade de filhos de portugueses. Tiradentes nasceu em uma família de posses, do contrário que muita gente acredita e realmente foi o único integrante do movimento Inconfidente a ser enforcado e esquartejado. Embora se acredite que o fato se deva pela suposta condição social de Tiradentes "por ser o mais pobre dos militantes", essa tese não deveria prosperar, porque Tiradentes além de ser filho de fazendeiro e dono de jazidas, opondo-se assim como outros inconfidentes à derrama (imposto sobre

MÉRIMÉE, DONIZETTI E AS POMBAGIRAS

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Foto: Eu e Egbomi Nice de Oyá. Terreiro Ilé Asé Osún Odenitá MÉRIMÉE, DONIZETTI E POMBAGIRAS ''Moço, eu já cansei de lhe dizer que mais cedo ou mais tarde, isso ia acontecer. Você ainda vai bater no meu portão, a toda hora implorando o meu perdão, mas eu não posso aceitar de coração, porque mulher tem que ter opinião", esta estrofe é um ponto para Pombagiras cantado em terreiros de Umbanda e aqui na Paraíba em terreiros de Candomblé que iniciaram os cultos afro -brasileiros a partir da Umbanda e da Jurema Sagrada, sendo difícil as casas de Candomblé na Paraíba não possuírem suas festas para Pombagira ou não manterem a sua Jurema de chão. Mas quem são as temidas Pombagiras para os não-adeptos, porém amadas e admiradas por umbandistas e candomblecistas? A Pombagira é um espírito de mulher, é antes de mais nada um espírito desencarnado que através de um/a médium incorpora para poder através de seus conselhos e apoio espiritual ajudar aos encarnados em diversas questões:

A PAIXÃO DE TEREBÊ

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(Gravura Internet) Terebê (Maria da Grã) foi uma mulher Guaianá, filha do Morubixaba Tibiriçá e de sua esposa Potira. Terebê é irmã de Bartira (Isabel Dias), sendo esta a filha mais famosa de Tibiriçá. Porém, a história de Terebê foi muito emocionante. Terebê, batizada como Maria da Grã (Maria da Graça) não deve ser confundida com a prima Terebê, filha do Morubixaba Piquerobi. Terebê (Maria da Grã) foi uma mulher de vontade própria que escolheu seu marido, tendo a escolha recaído sobre o Padre Jesuíta Pero Dias (Pedro Dias). A Ordem dos Jesuítas achou interessante tirar vantagem da paixão de Terebê, bem como seu pai Tibiriçá e rapidamente, com o apoio do Papa, segundo algumas fontes que tentarei resgatar para postar aqui, Pero Dias foi liberado para o casamento para consolidar o projeto jesuíta. Embora menos famosa que a irmã Bartira, a descendência de Terebê deu origem aos fundadores de diversas cidades do interior paulista e de bairros também da cidade de São Paulo como a Fregues

SOBRE O EPISTEMICÍDIO LINGUÍSTICO

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Recentemente iniciei os estudos do idioma Tupi-Guarani (Nhadewa - falado em São Paulo e Paraná basicamente). O tronco tupi se apresenta de forma distinta. Na Paraíba estuda-se o Tupi-Potiguara e me questiono sobre a diversidade de línguas tupis. O idioma Tupi-Guarani é altamente complexo e nos remete a diversas consoantes inexistentes no português, também a inexistência de fonemas do português e no tupi e em virtude disso, os jesuítas e Padre José de Anchieta fizeram uma reinvenção. Não existe no tupi original as letras (fonemas): b, c, f, h, j, l, q, s, v, x, z. As consoantes existentes são: DJ, GW, K, KW, M, MB, N, ND, NG, NH, P, R, T, TS, TX, W. O Tupi-Guarani possui seis vogais: A, E, I, O, U, Y. Essa vogal Y se assemelha ao U francês na forma "do bico", mas sai da nossa garganta. Então é um som que não existe nas línguas de origem latina. Em muitos aspectos a fonética se assemelha à língua japonesa, sendo o idioma japonês muito mais fácil de se assimilar quanto à foné

O "DIÁRIO DE NAVEGAÇÃO" de PERO LOPES DE SOUSA E A COLONIZAÇÃO DO BRASIL

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Foi escrito a partir de 03.12.1530 e termina aproximadamente em 24.01.1532. Narra a expedição de seu irmão MARTIM AFONSO DE SOUSA que recebeu a atribuição de Dom João III de Portugal de iniciar oficialmente a colonização do Brasil, sendo 2 marcos a fundação da Vila de São Vicente em 22.01.1532 por Martim Afonso de Sousa (relatada na obra) e em Pernambuco por Duarte Coelho anos depois. PERO LOPES DE SOUSA tem importância para a história da Paraíba e Pernambuco, porque foi o primeiro donatário da Capitania de Itamaracá, nunca tendo assumido a administração por ter morrido em 1539, sendo sucedido por seus filhos Pero e Martim, filhos com sua esposa Isabel de Gamboa. O estilo da obra é descritivo, próprio do Quinhentismo/Classicismo português. Relata condições meteorológicas diárias. Relata o encontro de espanhóis que iriam explorar o Rio Marañon (Amazonas), o ataque de piratas franceses na altura que acredito ser a Paraíba, a parada em Cabo de Santo Agostinho (PE) e Baía de Todos os Sa

SOBRE A VISÃO EUROCÊNTRICA DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL

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Pedro Álvares Cabral Nesse pequeno texto manterei o termo "descobrimento", haja vista que a data (22.04.1500) é marcada a partir de uma visão eurocêntrica e sob essa lógica que será feito o presente comentário sobre o "Descobrimento do Brasil". Estou a menos da metade ainda da leitura do livro de Bauman, "Europa. Uma aventura inacabada" em que o sociólogo polonês nos fala do sentido europeu de viver no mundo, de se lançar em aventuras e expandir suas fronteiras, sejam elas territoriais ou culturais. Pensando sobre isso, acredito que o reconhecimento da nacionalidade de descendentes de diversos europeus, pelo critério do sangue, é uma forma muito inteligente de estender a Europa dentro da lógica europeia de estar no mundo. Mas apenas para entendermos o modo de ver europeu e sob essa ótica como "descobridores", "inventam" novos mundos (no sentido técnico de "descoberta" = "invenção"), e deles "extraem" o q

AS MATRIARCAS DO POVO BRASILEIRO: ANTÔNIA RODRIGUES E O TRÁGICO FIM DE SEUS DESCENDENTES

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Getúlio Vargas - Foto da Internet As três Matriarcas do Povo Brasileiro são consideradas Bartira, Catarina Paraguaçu e Muirã Ubi (Maria do Espírito Santo Arcoverde, segundo o Dicionário das Mulheres do Brasil. Assú Piquerobi (Antônia Rodrigues) filha do Morubixaba Piquerobi, apesar de ter deixado ilustre descendência, não teve a mesma projeção de seu nome, como sua prima Bartira. De Antônia, a historia do Brasil nos traz 3 ilustres descendentes. As chamadas matriarcas do povo brasileiro foram assim denominadas pelos casamentos que fizeram com portugueses e pelo fato de seus pais terem sido Morubixabas. A partir desses casamentos houve a facilitação do projeto de colonização do país. A irmã de Antônia se chamava Terebê (filha de Piquerobi e homônima da prima, filha de Tibiriçá). O marido de Terebê foi o judeu Cosme Fernandes Pessoa, que seria o verdadeiro fundador de São Vicente, pois se encontrava no Brasil juntamente com João Ramalho e Antonio Rodrigues, todos judeus, muito antes d

O PRIMEIRO ADVOGADO "CARIOCA" E A FUGA DO SANTO OFÍCIO

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(Foto Internet) O primeiro advogado "carioca", assim entendido com Bacharelado e Licenciado por Coimbra, foi o português judeu Jorge Fernandes da Fonseca que em 1603, aos 18 anos concluía seus estudos. Em 1613 já residia na cidade do Rio de Janeiro, tendo se casado com Beatriz da Costa Homem, filha do Capitão Aleixo Manoel Albernaz, o Velho, um dos que lutaram na expulsão dos franceses em 1567 juntamente com Estácio de Sá. Albernaz se tornou sesmeiro de várias áreas, dentre as quais a que hoje ocupa a Rua do Ouvidor, tendo originalmente tal via ilustre sido chamada de Aleixo Manoel até meados do século XVII. Tais informações sobre Aleixo Manoel Albernaz podem ser obtidas com a leitura de Gilson Santos em "Um Advogado em São Sebastião" e com o autor de A Moreninha, que fez um belo estudo sobre o "centenário" do nome da Rua do Ouvidor em 1880. A vasta descendência de Jorge Fernandes da Fonseca se estendeu por todo atual estado do Rio de Janeiro. Inclusive

AINDA SOBRE A REVOLUÇÃO DE 1930: ANAYDE BEIRIZ, UMA VÍTIMA ARRASTADA PELOS ACONTECIMENTOS

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Anayde "Nasci Nasceu Cresceu Namorou Noivou Casou. Noite nupcial. As telhas viram tudo. Se as moças fossem telhas não se casariam." Anayde Beiriz Esse poema foi um dos poucos que chegaram até nós da poetisa paraibana Anayde Beiriz. Foi engolida pelas turbulências da Revolução de 1930, desencadeada pelo assassinato de João Pessoa, em 26.07.1930, pelo seu noivo, o advogado João Dantas. Anayde nasceu na Capital paraibana em 1905 (Parahyba do Norte) e se suicidou no Recife aos 25 anos em 22.10.1930, dias após o assassinato de João Dantas. Nunca saberemos o real potencial poético de Anayde, porque sua casa foi invadida por populares que queimaram documentos. Anayde tinha 1,67 m. Se vestia elegantemente. Usava uma Colônia que agora não recordo o nome. O cabelo À La Garçonne, salto e batom vermelho. Para os padrões dos anos 20 foi audaciosa ao ir residir só com seus recursos como Professora, numa época em que as mulheres saíam de casa somente casadas. Teve dois grandes amores: o e

JOÃO DO RIO E O PERFIL CARCERÁRIO CARIOCA

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(Foto Internet) A obra "A Alma Encantadora das Ruas" foi publicada em 1908 quando a população carioca ultrapassava pouco mais de 800 mil habitantes. João do Rio foi um dos maiores cronistas do Rio, ao lado de Luís Edmundo e Lima Barreto, embora fosse racista na descrição pejorativa de tipos. Em outra obra sua "As Religiões do Rio" publicada em 1904 se vê o desprezo pelas religiões de matrizes africanas. Mas, sua obra deve ser lida por trazer minúcias dos costumes. Foi um grande jornalista investigativo, além de um pioneiro, sendo ele pardo, homossexual assumido e afeminado, além da vasta cultura que o possibilitou ascender socialmente, mas não o livrou do racismo, gordofobia e homofobia do Barão do Rio Branco. Foi fundador da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, um marco em Direitos Autorais no país. "A Alma Encantadora das Ruas" chama a atenção ao abordar "onde acaba a rua", levando ao sistema prisional carioca do início de século XX, ond

CASOS TERRÍVEIS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA POLÍTICA: O Caso Araci Najaim em Pernambuco

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Gente, estou compartilhando esse caso de violência doméstica e violência política de género que aconteceu em 1971 e foi publicada na Revista Manchete na época com requintes de revitimização. A Lei de Violência Política de Gênero poderia se chamar Araci Najaim ou ter outro nome que expresse a indignação de um passado não tão distante. Ela era deputada estadual em Pernambuco e o seu marido ex-Prefeito de Caruaru, Drailton Najaim, manteve em cárcere privado, quebrou seus membros e queimou a vítima com cigarro para que ela renunciasse ao mandato. Na época a Revista Manchete tratou com chacota a situação, como briga de casal. Quantas Najaim foram impedidas de ingressarem na política por seus maridos? Quantas que estão se prestando na verdade a serem mandatárias de seus maridos, pais e filhos? E quando fazemos o recorte racial, como se dá a participação da mulheridade branca na política se não for como testa de ferro de homens? Apenas para reflexão. Laura Berquó