O "DIÁRIO DE NAVEGAÇÃO" de PERO LOPES DE SOUSA E A COLONIZAÇÃO DO BRASIL

Foi escrito a partir de 03.12.1530 e termina aproximadamente em 24.01.1532. Narra a expedição de seu irmão MARTIM AFONSO DE SOUSA que recebeu a atribuição de Dom João III de Portugal de iniciar oficialmente a colonização do Brasil, sendo 2 marcos a fundação da Vila de São Vicente em 22.01.1532 por Martim Afonso de Sousa (relatada na obra) e em Pernambuco por Duarte Coelho anos depois. PERO LOPES DE SOUSA tem importância para a história da Paraíba e Pernambuco, porque foi o primeiro donatário da Capitania de Itamaracá, nunca tendo assumido a administração por ter morrido em 1539, sendo sucedido por seus filhos Pero e Martim, filhos com sua esposa Isabel de Gamboa. O estilo da obra é descritivo, próprio do Quinhentismo/Classicismo português. Relata condições meteorológicas diárias. Relata o encontro de espanhóis que iriam explorar o Rio Marañon (Amazonas), o ataque de piratas franceses na altura que acredito ser a Paraíba, a parada em Cabo de Santo Agostinho (PE) e Baía de Todos os Santos (BA). Nesse último local se encontrou com Caramuru. Também relata que Martim Afonso de Sousa mandou esvaziar um navio localizado na Baía de Todos os Santos com 200 escravizados (indígenas) o que demonstra que antes da colonização oficial já havia tráfico de pessoas escravizadas. Permaneceram no Rio de Janeiro entre 30 de abril a 1 de agosto de 1531. Em outra obra de Monsenhor Pizarro informa que a Praia Vermelha, na Urca, chamava-se inicialmente Praia de Martim Afonso. Não permaneceu no Rio, porque Martim Afonso teria achado assustadora a paisagem com diversos penhascos e por não verificar condições melhores que encontrou depois em São Vicente, como a convivência com a população nativa (Pizarro). O Rio de Janeiro embora não fosse fundado oficialmente, já existia. Mas será que não permaneceu por isso? Ou o Rio foi um ponto de repouso estratégico, já que ocorriam nesse período tratativas com Tibiriçá? E São Vicente? Em São Vicente encontraram 400 pessoas escravizadas. O que implica em tráfico não oficial de pessoas, porque a colonização não tinha sido oficializada. Ocorre que o talvez degredado, casado com Terebê Piquerobi, genro portanto de Piquerobi, Cosme Fernandes Pessoa foi o verdadeiro fundador de São Vicente. Dom João III incumbiu o "protagonismo" a Martim e não a um judeu. Pero Lopes descreve os tipos diversos de povos originários, a fauna, condições geográficas e climáticas, fala brevemente sobre ritual antropofágico. Sua obra foi descoberta em 1839 por Varhagen em Portugal. João Mendes de Almeida Junior em sua obra Os Indígenas do Brazil, onde desenvolveu a teoria do indigenato que serviu de base para a CF/88, relata justamente a existência desse tráfico de pessoas indígenas escravizadas, sendo São Vicente chamada de Porto dos Escravos. Considerando que três portugueses já residiam em São Vicente, sendo genros de Tibiriçá e Piquerobi, deveria ser revisto em que termos Piquerobi seria um herói contra a resistência portuguesa, porque dois de seus genros (Cosme e Antônio Rodrigues) escravizavam indígenas. Inclusive participou com seu genro Cosme da invasão ao núcleo de São Vicente em 1534 em retaliação à perseguição da Coroa ao verdadeiro fundador da Vila. A obra de Pero Lopes de Souza é importante leitura para entendermos o que de fato leva o Brasil a ser oficialmente colonizado, já que existiam portugueses judeus aqui residindo e um tráfico de pessoas indígenas bem movimentado. Outra obra importante que talvez possa trazer elucidações sobre o inicio oficial da colonização do país é a do ex-Presidente da República WASHINGTON LUÍS intitulada "NA CAPITANIA DE SÃO VICENTE". Washington Luís foi um advogado e historiador fluminense que se tornou político em São Paulo chegando a assumir a Presidência da República (1926-1930). Exilado, dedicou-se à vida intelectual. A obra de Washington Luís, no entanto, no capítulo sobre "Os Índios", deve ser lida com ressalvas, devido sua visão depreciativa sobre os povos originários da Capitania de São Vicente. Laura Berquó

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