A DESCRIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA POR JEAN DE LÉRY

A DESCRIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA POR JEAN DE LÉRY Eu tenho fixação na Baía de Guanabara. Não é pela qualidade do banho, obviamente, porque na Paraíba tenho águas limpas e quentinhas. Mas as marolas escuras e o cheirinho típico me traz lembranças da infância. Em "O Triste Fim de Policarpo Quaresma" de Lima Barreto, há referência às águas da Baía de Guanabara como escuras e crespas e o cheirinho típico é descrito por Luís Edmundo em 1904 quando na obra "O Rio de Janeiro do Meu Tempo" fala sobre uma "socialite" da época que evitava tomar o caminho de Botafogo para evitar sentir o cheirinho de nossa Baía. Interessante, porque na minha ignorância, como nasci após o processo de poluição das águas, acreditava que a cor e o cheiro se devessem a isso. Jean de Léry, religioso calvinista que passou um tempo entre tamoios e no Forte Coligny no tempo da França Antártica, descreve com riqueza de detalhes na obra "Viagem à Terra do Brasil" a fauna da Baía de Guanabara, que ele também chama de "rio", "braço de mar" e diz que o acidente geográfico já era conhecido como "de Janeiro". Na verdade, segundo Monsenhor Pizarro, Martim Afonso de Sousa quando desembarcou no Rio em 1531 e lá permaneceu por alguns meses, teria sido o responsável em nomear em definitivo o lugar como "Rio de Janeiro" que mais tarde se tornaria nome da cidade. Mas diferente de Martim Afonso de Sousa que teria achado assustadores os penhascos, Léry demonstrou outra reação e comparou à cidade de Genebra. Léry descreve a região que abrange o atual bairro da Urca e seus morros, numa época em que a região não era aterrada, obviamente, e o mar entrava facilmente nas regiões temos a praia de Botafogo. Isso identifico de leituras que fiz antes sobre o assunto e a descrição de algumas ilhas e morros feitos por Léry. Jean de Léry teve contato, de acordo com Elisete Pietroluongo, com as 19 aldeias tamoias, que abrangeriam do Flamengo até a tapera de Inhaúma. Inclusive recolheu músicas dos tamoios, como "Canide Ioune" no ano de 1557. Interessante que informa que a "Ilha Grande" que pelo que pude identificar corresponde à Ilha do Governador, já era habitada pelos tamoios, o que significa dizer que realmente corresponde ao período de expulsão dos temininós que precede à aliança desses com os portugueses. A água do Forte Coligny (Ilha de Villegagnon) era recolhida em cisternas e de péssima qualidade, sendo segundo ele, o acesso à água do Rio Carioca controlada pelos tamoios, dificultada mesmo aos franceses. Mas o que surpreendeu na leitura foi a fauna. Incrível imaginar uma baía de Guanabara com tubarões e muitas ostras enormes, que segundo Léry, os tamoios com grande satisfação mergulhavam em busca delas e os franceses se admiravam com a enorme quantidade de pérolas. Também uma enorme quantidade de baleias era vista e motivo de preocupação. A informação é interessante, porque a Ponta da Armação em Niterói, na Baía de Guanabara, deve-se justamente, porque ali eram tratadas as baleias pescadas, sendo armação o local de beneficiamento de cetáceos. Mas realmente o que me admirou foi a existência de tubarões e pérolas em abundância sob as marolas escuras. A obra de Léry foi escrita duas décadas após sua passagem pelo Rio de Janeiro. Laura Berquó

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