A MACAXEIRA: HERANÇA DOS POVOS ORIGINÁRIOS PARA NOSSA ALIMENTAÇÃO

A Macaxeira (aipim ou mandioca) é sem dúvida uma das raízes mais consumidas no Brasil. Um dos maiores produtores de macaxeira (aipim), conforme vi no progrma "Brasil Visto de Cima" (da Globo pela skY) é a zona rural carioca entre os bairros de Guaratiba e Santa Cruz, bairros da zona oeste no município do Rio de Janeiro. Porém, em todo país as plantações de subistência cultivam macaxeira. consumida em larga escala no Brasil de diversas formas: cozida, frita ou como tapioca, farinha, bijus, sopas, utilizando-se até suas folhas na culinária do Norte. A macaxeira é um dos alimentos sagrados dos povos originários, ao lado também de outra raiz: a batata-doce. Ambas são raízes originárias da América do Sul e segundo aprendi com ensinamentos de professores indígenas da Aldeia Indígena Tapirema (localizada no município de Peruíbe no litoral de São Paulo) pelas aulas on line do projeto social Vivência na Aldeia, a macaxeira é um alimento sacralizado, assim como a bata-doce, o milho e algumas frutas. Alguns hábitos dos povos originários permaneceram durante mais de dois séculos com os cariocas, a exemplo do consumo praticamente exclusivo da carne de peixe, sendo o carioca até a vinda da família Real, um povo ictiófago, bem servido pela Baía da Guanabara, conforme Celso Renault em 'O Rio Antigo nos Anúncios de Jornais" de 1969. Hoje baixei da internet a obra de Jean de Léry para verificar a alimentação dos Tamoios na atual capital carioca antes da fundação da cidade do Rio. No momento, encontrei referência sobre o consumo e formas de preparo da mandioca (macaxeira ou aipim) na obra anônima "Sumário das Armadas" que data de 1585 e que narra a conquista do território paraibano pelos portugueses em conflito com os Potiguara. Assim é a descrição do uso da macaxeira, inclusive como a farinha que conhecemos e sua importância na época das guerras entre as nações dos povos originários daquele tempo: "Enfim, todo sertão do Brasil é muito estéril e de pouco mato, e terra desventurada, que, com trabalho dá a mandioca, que os negros plantam como bacelos; e em 10,12 meses se faz tão grossa como grandes nabos, com raízes compridas, com muitas pernas, e tenras; raladas, dão muita farinha, com que eles e os brancos de sustentam; e depois do trigo é o melhor mantimento que se sabe; principalmente, deitada de molho, faz singular fariha para se comer em fresco, que se parece como nosso cusques. Fazem também outros beijus, que são redondos como mangauis, ou compridos, como querem, pouco mais grossos que hóstias: são muito bons de comer, porque tomam o gosto e o sabor natural daquilo que os comem: fazem mais outra farinha destas raízes a que chamam de mandioca, mais cozida, para durar muitos meses, com que vêm ao reino, e irão à Índia, a esta chamam farinha -de-guerra, porque na guerra, se servem os negros dela; e como no Brasil um negro tem farinha e rede, arcos e frechas, logo se tem por rico". p23 Como vocês podem ver, as diversas formas de utilização da macaxeira nos chegou até hoje, sendo herança indígena as formas de manipulação dessa raíz que também é conhecida como "pão dos pobres". Nesse parágrafo do Sumário das Armadas, prestem atenção que a paisagem descrita como "muito estéril e de pouco mato" deve ser se referindo ao bioma caatinga por estar localizado no semiárido nordestino e ser uma região de vegetação rasteira. A expressão "negro" durante muito tempo foi utilizada pelos portugueses para se referir às pessoas de origem indígena. Laura Berquó

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